Gostaria de começar este texto com mais entusiasmo e esperança. Afinal, o debate sobre o fim da escala de trabalho que garante apenas um dia de folga ao trabalhador após seis dias consecutivos de serviço nunca esteve tão em evidência. Contudo, estamos falando do Brasil, país cuja base histórica é marcada por ser o último das Américas a abolir oficialmente a escravidão, o que não nos permite grande otimismo. As heranças dessa terra, que é “gigante por natureza”, infelizmente nunca foram tão generosas com seu “povo heroico”, desde 1500. 391s44
A escala 6×1 é uma norma prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que determina um dia de descanso após seis dias trabalhados, dentro de uma jornada semanal máxima de 44 horas, ou seja, sete horas e 20 minutos por dia. Embora pareça um direito assegurado, sua aplicação tem sido constantemente flexibilizada. Na prática, ela contribui para jornadas exaustivas, promovendo desequilíbrio entre vida pessoal e profissional, além de comprometer a saúde física e mental dos trabalhadores.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2025, protocolada na Câmara dos Deputados pela deputada Erika Hilton (Psol), propõe estabelecer uma jornada de quatro dias de trabalho por semana, com até oito horas diárias e 36 horas semanais. Essa proposta é uma resposta concreta ao crescimento alarmante dos afastamentos por questões de saúde mental, ao avanço do burnout e à rearticulação de uma esquerda que volta a se colocar em defesa da classe trabalhadora.
Ainda que atual e aparentemente bem recebida, inclusive pelo presidente Lula, a discussão sobre escalas e jornadas, como a 6×1, não deve se restringir a patrões e legisladores. É urgente garantir a participação popular nas decisões que afetam diretamente os trabalhadores. É preciso ouvir as vozes da classe trabalhadora, dos sindicatos, dos especialistas em saúde laboral e da sociedade civil como um todo.
Se implantada nos moldes apresentados pela deputada, estima-se que 37% dos trabalhadores brasileiros serão impactados diretamente. Em termos econômicos, o PIB poderá registrar um impacto de até 16%, segundo dados da FIEMG. Por isso, é fundamental a participação ativa da sociedade para que não se repita o erro da reforma trabalhista de 2017, aprovada sem plebiscito ou ampla consulta pública, e que resultou em mudanças profundas na vida dos trabalhadores, mas com pouca legitimidade social.
A redução da jornada de trabalho já é realidade em diversos países do mundo: França, com 35 horas semanais; Alemanha, com até 40 horas; Noruega, com 37,5 horas, entre outros exemplos que comprovam que é possível melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores sem prejudicar a economia. O fim da escala 6×1 pode ser o primeiro o de uma grande vitória social.
Parafraseando Karl Marx, “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores unidos”. Portanto, o fim da escala 6×1 representa mais do que uma reforma trabalhista. Simboliza o direito ao descanso, saúde, à dignidade e à qualidade de vida. Democratizar o debate sobre direitos trabalhistas é essencial para construir uma sociedade mais justa, democrática e igualitária. O trabalhador precisa deixar de ser apenas objeto das leis e ar a ser sujeito ativo na construção delas.
E, como disseram Karl Marx e Friedrich Engels: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”
Laiana França é mercadóloga, pós-graduada em Gestão Empresarial, estudante de Direito e mestranda em Economia, além de feminista e militante dos direitos humanos.
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