Quando pensei em escrever, fiquei refletindo sobre o quê de grandioso a gestão Elinaldo realizou, e eu não consigo eleger nem um top 10. Acredite, eu escrevo isso com muita tristeza. Ninguém que vive e ama Camaçari deseja que seu município tenha um gestor público que, além de insensível à dor do povo, não consiga gerir com a grandeza que a cidade tem. 6c1n5a
Talvez nós, munícipes que se acostumaram com essa política historicamente colonialista, às vezes esqueçamos a importância de Camaçari, mas somos gigantes de dimensão, já que de extensão somos maiores que a capital, e de arrecadação temos o segundo maior PIB da Bahia, quarto maior do Nordeste. O Produto Interno Bruto (PIB) local de 2023 foi de R$ R$ 33.971 bilhões, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
A meu ver, é vexatório o que sofremos nesses últimos oito anos. Para além da falta de um grande feito, não tivemos o básico (a tão famigerada dipirona nas unidades de saúde), e todas as vezes que cobramos dessa gestão, principalmente da saúde, que foi a área mais crítica, o jogo sempre era confundir a população que não consegue entender a divisão das responsabilidades entre os entes municipais, estaduais e federais, e todos os dias o prefeito, secretário e subsecretário faziam questão de atacar o Governo do Estado.
Para além do amadorismo que é não se esforçar para ter uma boa relação com o Governo do Estado, eu sempre repetia nas infinitas conversas que tinha: “Se o básico tivesse sido feito, o PT jamais retornaria ao poder”, e aí que está: a política é uma ciência com infinitas variáveis, e Camaçari é um dos laboratórios mais atípicos. Sempre que encontro amigos de outros lugares da Bahia e eles pedem notícias do nosso cenário político, eu sempre digo: “Minha Camaçari dá e deixa…”.
Óbvio que ter essa receita atraente faz a disputa aqui ser acirrada, mas temos outras questões. Uma delas é a militância apaixonada. Acompanhei essa campanha ativamente, inclusive reativando meu trabalho militante, para o qual eu tanto disse que jamais voltaria, mas a vida tem tantas nuances que nos mostra que o conselho de vó está certo: a gente fala de manhã para pagar de tarde. Mesmo nesse cenário, no qual eu estava com o olhar enviesado por estar em um lado definido, penso que essa campanha deixou muitos ensinamentos, já que muita coisa foi novidade, inclusive o abuso de poder econômico.
Nesse quesito, é importante destacar dois fatores, a meu ver. O primeiro: o fator “emenda pix” foi brutal em diversos municípios, e aqui isso talvez tivesse garantido a vitória de Flávio Matos no primeiro turno, se não tivessem ocorrido tantos problemas nas urnas eletrônicas, o que eu acho uma questão fascinante, porque sobre uma variável como essa não há controle algum, pois envolve o fator humano da espera.
O segundo ensinamento, que acredito ser o mais importante, é levar em conta o fator local, e aqui eu tentarei explicar a minha teoria. Flávio se apresentava como o novo e o verdadeiro camaçariense por ter nascido aqui, mas ao mesmo tempo usava da presença de ACM Neto como trunfo político, o que é comum nessas situações. No entanto, naquela reta final, a informação de que o ex-prefeito de Salvador estava com casa alugada aqui soou como desespero, era como se o local não estivesse dando conta, o que confirma toda a tese, negada por oito anos, de que a gestão de Elinaldo nunca teve autonomia política para com os caciques de Salvador.
Para além da grande vitória de Caetano — grande não pela diferença de votos, mas pelo intenso trabalho da militância, o que muito apareceu na fala do próximo prefeito nas vésperas do segundo turno — e apesar de muito escutar que ele será semelhante ao que foi nos seus dois mandatos anteriores, vejo mais cautela e determinação. Meu desejo é que ele fique igual ao presidente Lula, que na minha opinião está fazendo o melhor governo, levando em conta todas as dificuldades, inclusive na tentativa de golpe de Estado.
E para minha amada árvore que chora, eu desejo para os próximos anos só lágrimas de alegria. O cenário é muito positivo, inclusive com a chegada da tão aclamada BYD. Confio na experiência e articulação de Caetano, e acima de tudo, nesse projeto coletivo que tem mostrado tanta determinação já nesse processo de transição. Aguardo as cenas dos próximos capítulos com esperança e fé.
Iana Cedraz é geógrafa e apaixonada por Camaçari, vascaína, mãe de Hector e Mel, observa o espaço e fofoca a respeito.
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