Nesse momento, parece que há um desencontro entre os que coexistem. Talvez não mais do que já aconteceu em momentos conflituosos da História, mas, ainda assim, deveras confuso para quem procura entender-se, socialmente falando, em qualquer contexto que conforte. Já pensei, em outro momento, que encaixar-se nesse sentido não precisa ser obrigatório e que as pessoas atribuem à coerência um valor exagerado. Ainda agora, quase nunca vejo grandes vantagens em ser coerente ou em provar que estou certa, quando me acontece de estar, quando existem pontos tão mais cruciais à convivência. 5f6z2z
No entanto, ultimamente tenho sentido necessidade de esclarecer algumas coisas. Nada especial, mas não pouco curioso. É coisa da raça humana, em algum momento da vida, brincar de esquecer que é animal (a única espécie que se decide por esse estranho caminho). Nesse ponto, alguns posicionamentos e categorizações se fazem necessários. Será uma reflexão que todo mundo já fez? O que significa ser homem, mulher, adulto, velho, ateu, hétero, homossexual, branco, preto, de esquerda, direita, cidadão?
Essas denominações, para mim, não parecem íveis de separação completa umas das outras, como se fossem apenas contextos inventados em nome do conforto. Na verdade, arrisco dizer que ninguém escapa do meio. Qualquer decisão sobre qualquer coisa se resume ao campo do futuro e, nesse quadro temporal, para nós, irredutivelmente inexistente, a única certeza é a incerteza. Acho que ouvimos o que somos antes de dizer, e esquecemos dessa última parte.
Ayla Cedraz estuda Letras Vernáculas e Inglês na Universidade Federal da Bahia. Escreve às segundas, a cada três semanas. [email protected]