Três meses desde o início dos trabalhos legislativos em Camaçari, e o cenário político já foi redesenhado algumas vezes. A Câmara Municipal enfrenta hoje uma crise, devido aos conflitos e insatisfações entre os vereadores e o presidente da Casa, Niltinho (PRD). 5t1r6l
A saída de três vereadores do grupo do presidente e a formação de uma bancada independente, mais recentemente, são claras sinalizações de que o chefe do Legislativo tem perdido o controle e que a situação tem extrapolado os corredores da Câmara.
Mesmo com as insatisfações, nenhum político se dispõe a falar publicamente sobre a gestão da Câmara, na tentativa de manter um clima de normalidade, quando, na verdade, a paz está longe de reinar na istração de Niltinho, que hoje comanda sem o apoio da maioria.
Vale ressaltar que esses vereadores “independentes” não deixam de fazer oposição ao governo municipal. Os políticos buscam um distanciamento do presidente da Casa. Mesmo depois da saída do grupo, Dudu do Povo (União) continuou sendo mencionado como líder da oposição, embora não mantenha articulações com o presidente.
Os motivos pelos quais Dudu, o vereador mais votado pela oposição no ano ado, e Manoel Jacaré (PP) deixaram o grupo oposicionista no Poder Legislativo não ficaram claros em pronunciamento feito pelos dois. Informações de bastidores, no entanto, apontam para descontentamentos com a distribuição de cargos comissionados dentro da Casa, pagamentos de gratificações que somariam R$ 1,5 milhão em menos de cinco meses de gestão, cortes de verbas nos gabinetes e demissões.
“Pior gestão de todos os tempos”
A gestão de Niltinho já é considerada por alguns parlamentares como uma das piores nos últimos anos, ainda que o presidente tenha apenas quatro meses e meio no comando da Casa. A lista de queixas dos vereadores é extensa, e são muitas as tentativas, por vezes mal sucedidas, de acalmar os ânimos na Casa para que os escândalos não vazem.
Apesar dos empenhos e do jejum de críticas em assuntos gerais, um encontro privado resultou em uma briga protagonizada por Dentinho do Sindicato (PT) e Tagner Cerqueira (PT) contra o atual presidente. A situação é reflexo da crescente insatisfação interna e da dificuldade de manter a harmonia no Legislativo. O episódio expõe os bastidores turbulentos da Câmara e fragiliza ainda mais a imagem da gestão de Niltinho entre os próprios colegas de parlamento.
Legislando no piloto automático
No início do ano, as promessas do Legislativo foram de dar celeridade às propostas que assegurassem o bem-estar da população e de manter uma postura “jamais vista antes no município”.
Logo antes do início dos trabalhos, foram aprovados projetos de lei para conceder benefícios aos professores e para viabilização do transporte público municipal, ambos enviados pelo Executivo. As aprovações sinalizaram um esforço inicial por parte da Câmara em priorizar as demandas estratégicas para o município.
Após esse início promissor, os trabalhos legislativos têm se concentrado majoritariamente em indicações e requerimentos, muitos deles sem desdobramentos práticos.
Um levantamento do Destaque1 mostra que as pautas mais recorrentes envolvem pedidos de pavimentação asfáltica, requalificação de praças e espaços públicos, melhorias na iluminação e intervenções em campos de futebol. As propostas, além de previsíveis, dependem exclusivamente da iniciativa do Executivo, o que reduz significativamente a efetividade da Câmara.
A postura tímida e burocrática de alguns vereadores reforça a percepção de que o Legislativo ainda não conseguiu assumir um papel decisivo, ficando limitado a demandas pontuais e sem aprofundar debates estruturais.
Recalcular a rota é preciso
Em meio a tantos ruídos, o Legislativo de Camaçari precisa reencontrar o caminho. A população espera mais do que vídeos viralizados dos discursos na tribuna ou a exploração superficial de temas que tanto afligem os cidadãos.
É hora de Niltinho rever a forma de conduzir a Casa, abandonar práticas centralizadoras e conciliar os conflitos com os colegas de parlamento. Não basta controlar a pauta: é preciso liderar com equilíbrio, fortalecer os vínculos entre os políticos e garantir que os debates estejam à altura dos desafios da cidade.
Se a política local continuar girando em torno de disputas internas e desentendimento, quem paga a conta é o cidadão. Para que o município avance de fato, é fundamental que o Legislativo se reconecte com sua missão. Caso contrário, seguiremos assistindo a uma Câmara paralisada pelas suas próprias crises, e uma cidade que fica sempre para depois.
Isabella Mota é graduanda em Jornalismo na Universidade Federal da Bahia, repórter de política, setorista na Assembleia Legislativa da Bahia e editora no Destaque1.
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