Durante décadas, prevaleceu o senso comum de associar a juventude a um comportamento naturalmente progressista, inovador e revolucionário. Como diria Che Guevara, “os jovens são o barro novo com que se modelará o homem novo” (GUEVARA, 1963). No entanto, essa visão tem sido desafiada por uma nova realidade: o crescimento de uma onda conservadora entre os membros da Geração Z, composta por nascidos entre 1996 e 2010. Essa geração tem seu desenvolvimento pautado na internet e nas redes sociais. Em plena era digital, eles têm demonstrado posições politicas cada vez mais alinhadas ao conservadorismo, moralidade e, muitas vezes, contrárias ao chamado politicamente correto. Esse fenômeno altera de forma significativa o panorama político contemporâneo e nos alerta para um futuro que tende a reproduzir nosso ado. 5z5a5s
Historicamente, a juventude tem sido protagonista de grandes rupturas políticas. A Revolução sa é um dos exemplos mais emblemáticos de como os jovens podem direcionar o contexto político para caminhos progressistas. Contudo, uma parcela crescente da Geração Z tem se distanciado desse padrão. Na era dos influenciadores digitais, o consumo de informação tornou-se mais visual, fragmentado e superficial. Não se lê, se assiste; não se critica, se compartilha; não se cria, se reproduz. Com isso, personagens conservadores conquistam milhões de seguidores com discursos que exaltam a família tradicional, criticam movimentos feministas e LGBTQIA, se opõem à cultura do cancelamento. Além disso, reacendem temáticas e “colam” alguns tabus que jurávamos estarem quebrados. Vídeos com temas como: “Qual tipo de roupa você pode usar para chamar atenção do homem certo?” e “Qual o tipo de mulher para casar?” ganham espaço, visualizações, compartilhamentos e reforçam preconceitos sociais, políticos e econômicos.
A ascensão do conservadorismo entre a Geração Z tende a ser interpretada como uma resposta a um cenário de incertezas econômicas, mudanças sociais drásticas e ansiedade generalizada. O conservadorismo oferece uma estrutura de valores aparentemente segura, com a família, religião e autoridade, que contrasta com o mundo fluido e volátil descrito por sociólogos como Zygmunt Baumann. Para os jovens, “comprar” essa receita é uma forma de se ancorar no meio da turbulência contemporânea.
No que tange à política, a onda conservadora não se restringe apenas ao espaço virtual, ela a a refletir nas urnas e nos espaços de poder. No Brasil, candidatos da direita e extrema-direita têm elaborado campanhas específicas para o público jovem, utilizando linguagem digital e defendendo pautas morais. A eleição do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), aos 26 anos, com forte atuação nas redes sociais, exemplifica essa nova configuração da política brasileira.
Ainda que legítimo, o crescimento do conservadorismo jovem levanta preocupações quanto à qualidade do debate democrático. A adesão a posições extremas, frequentemente guiada mais por identidade e emoção do que por reflexão crítica, pode enfraquecer o diálogo e fomentar a polarização. A onda conservadora na Geração Z é um fenômeno complexo, que desafia estereótipos históricos sobre o comportamento político da juventude. Compreender esse movimento é essencial para enfrentar os desafios do presente e projetar soluções democráticas para o futuro.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduada em Gestão Empresarial, estudante de Direito e mestranda em Economia, além de feminista e militante dos direitos humanos.
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